Pop kids? Como youtubers e produtor fã de Michael Jackson estão criando hits para minifãs
13/12/2024
Com clipes sempre entre os mais vistos do YouTube, artistas (e influenciadores) falam de dramas adolescentes e vida na escola para conquistar público infantojuvenil. Pop infantojuvenil tenta viralizar para alcançar o sucesso
Kysha & Mine, Stefan Baby, Emilly Vick ou Wenny podem até ser nomes desconhecidos se você tiver mais de 30 anos. Tudo bem, você não é o público-alvo deles.
Com clipes sempre entre os mais vistos do YouTube, esses artistas musicais (e, claro, influenciadores) querem ocupar um espaço que consideram atualmente “vazio”, o dos hits voltados para o público infantojuvenil.
As duas 'migas' da escola
Kysha e Mine
Divulgação
Kysha, de 26 anos, nascida em Mataraca (Paraíba), e Mine, de 18 anos, do Rio de Janeiro, se conheceram com ajuda das dancinhas na internet. Mine gravava vídeos na escola e, entre as músicas, estava uma de Kysha. Depois de se conhecerem pessoalmente, resolveram formar a dupla e produzir conteúdos para redes sociais.
A virada aconteceu com “Duas amigas”, clipe que passou de 9 milhões de views no YouTube. O sucesso gerou uma preocupação na dupla.
“A gente não tinha a pretensão de ser para o público infantil. Da segunda música em diante, não tem mais palavrão, nenhuma palavra que seja imprópria”, explica Kysha ao g1.
Logo depois surgiu "Lance de Escola", projeto que reúne clipes em que a dupla encena histórias musicais. Quatro meses após o lançamento, o projeto ficou no primeiro lugar dentre os clipes musicais mais vistos YouTube. Hoje, os vídeos somam mais de 75 milhões de views.
As letras giram em torno dos dilemas da adolescência e o projeto conta ainda com uma versão acústica no canal da dupla.
Kysha diz ter referências musicais distantes do mundo infantil, principalmente artistas do pop latino como Bad Bunny, J Balvin e Anitta. “Eu trago um pouquinho de excentricidade. Gosto de coisa esquisita”, ela resume.
O produtor fã de Michael
Kysha e Mine, Stefan Baby e Wenny
Divulgação
"Lance de Escola" conta ainda com os influenciadores Argentino e Fidelis. Mas um nome que merece destaque é o do produtor musical Stefan Baby, de Araguaína (Tocantis). Além de pensar as músicas, ele interpreta “o cara errado” na trama.
“Eu sempre tive esse teor juvenil por conta de cantar agudo”, Stephan teoriza em entrevista ao g1. Aos 28 anos, a ideia não era produzir para os novinhos, mas ele parece aceitar a nova missão. Até porque, segundo ele, o som para fãs infantojuvenis é "pouco explorado".
"Quando fala de público infantil, a galera lembra de Xuxa, de Palavra Cantada. Agora é a hora de dar músicas de verdade para as crianças, né? Por isso, os adolescentes estão indo escutar músicas mais maduras”.
Para a terceira temporada de Lance de Escola, Stefan trouxe um pouco do rei do pop, principalmente para as apresentações teatrais. “Sou muito fã de Michael Jackson. Se é para ser pop, por que não trazer uma das maiores referências? Na hora de ir para o teatro, penso como ele agiria, dançaria, que movimento faria", explica.
Desde julho, a turnê nacional passou pelo Rio, São Paulo e Belo Horizonte, com público somado de mais de 20 mil espectadores.
Kysha e Mine em peça teatral
Divulgação
Umberto Tavares, diretor musical do projeto, destaca o desafio ao ter um público com idades diferentes. “É uma linha tênue entre o que é bobo demais e o que está além do que pode ser falado nas letras. Embora a diferença seja pouca, são gerações distintas. Então, a gente tem que ter um cuidado com a narrativa que não pode ficar muito boba para não perder o público infantojuvenil”.
Esse mundo não é uma novidade para Umberto. Em 2003, ele escreveu “Adoleta” para Kelly Key. O hit era focado no público adulto, mas fez sucesso entre as crianças. Depois, ele produziu “Show das Poderosas”, da Anitta, e uma versão batizada como “Show das Poderosinhas”.
“Hoje em dia, você tem as redes sociais como uma mola propulsora de músicas e de possibilidades de viralizações. O desafio é construir músicas que fiquem para a posteridade, e ao mesmo tempo, que sejam viralizáveis para que elas atinjam os objetivos de hoje”.
A youtuber mais vista do Brasil
Youtuber mais assistida do Brasil em 2024, a mineira Emilly Vick é outra que se arriscou no conteúdo musical. Apesar de predominarem desafios e histórias de humor, o vídeo mais visto é o do clipe “Chiclete”, que foi lançado apenas quatro meses e contabiliza mais de 70 milhões de views.
Segundo a agência Curta, 50% do público do canal está na faixa etária de 13 a 17 anos. Além de produtos licenciados, Emilly se apresenta com a "Família dos Rosa" na turnê “Dos Rosa em: o Multiverso dos Elementos”.
A irmã de Lexa
Wenny no clipe "Checkpoint"
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Wenny é mais um novo nome deste mundo pop. A adolescente de 15 anos, irmã de Lexa, lançou seu primeiro clipe, “Checkpoint”. Ele passou dos 200 mil views.
Quando o assunto são referências musicais, Wenny é bem eclética. “As duas principais são Lady Gaga e a Amy Winehouse, e daí vem o Freddie Mercury. Tenho inspirações musicais brasileiras, Anitta, Pabllo. Quando se trata só de música, escrita e canção, eu me inspiro muito no Djavan, no Caetano e no Chico Buarque”.
Mas o público adolescente não chega a ser uma preocupação para a cantora. "Eu prefiro ser eu, porque tem muita gente da minha idade que não gosta de mim, por ser quem eu sou. Eu sou cantora para mostrar que você pode ser quem você é. Livre de preocupações."
E os minifãs?
A psicóloga infantil Jenniffer Pires vê com restrições este tipo de conteúdo, principalmente se consumido por crianças. “Por mais que a melodia seja ‘divertida’, o conteúdo não é apropriado ao público infantil”, ela opina.
Jenniffer explica que os clipes podem interferir nas atitudes desse público. “No caso de crianças e adolescentes, que são mais vulneráveis a pressões externas e de pares, esse impacto pode aparecer na adoção de comportamentos inadequados, sexualizados ou que não correspondem ao que a criança considera correto, apenas para se assemelhar ao artista e pertencer ao grupo social que valoriza aquele tipo de conteúdo, comportamento e consumo”.
A psicóloga ressalta que proibir crianças e adolescentes de ouvirem essas músicas não é o indicado, mas sim acompanhar de perto e conversar com eles. “É fundamental que os pais abordem com naturalidade, sem alarde, as temáticas levantadas pelas músicas de forma aberta, orientando de maneira tranquila e sem julgamentos. Desta forma, mesmo quando expostas a conteúdos inadequados, as crianças terão em casa um espaço seguro para discutir o tema”.