Luciene Franco, cantora (do fim) da era do rádio que lançou ‘Ternura antiga’, morre no Rio de Janeiro aos 85 anos
10/12/2024
♫ OBITUÁRIO
♪ Em 1960, ao participar do Festival do Rio, a cantora Luciene Franco apresentou Ternura antiga, uma das mais belas canções da parceria de José Ribamar Pereira da Silva (1919 – 1987) – o grande pianista conhecido artisticamente como Ribamar – com Dolores Duran (1930 – 1959), compositora que havia falecido no ano anterior, aos 29 anos.
Ter lançado Ternura antiga, no disco do festival editado em 1960, foi um dos maiores feitos de Luciene Habib Franco Freitas Câmara (3 de janeiro de 1939 – 10 de dezembro de 2024), cantora carioca que morreu na manhã de hoje, aos 85 anos, em decorrência de sérios problemas de coluna que a levaram a fazer sucessivas cirurgias e a ficar dois meses internada em hospital da cidade natal do Rio de Janeiro (RJ).
A morte da cantora foi confirmada nas redes sociais por amigos e por Márcio Gomes, cantor responsável por ter trazido Luciene Franco de volta aos palcos, há cerca de 15 anos, como convidada dos shows do cantor.
A despeito de ter lançado Ternura antiga, música que se tornaria um standard da música brasileira, o maior sucesso da cantora – que assinava Lucienne Franco no início da carreira, iniciada em 1957 – foi Ma vie, música do cantor e compositor francês Alain Barrière (1935 – 2019), lançada pelo autor em 1964 e regravada por Luciene em 1965.
Revelada no fim da era do rádio, Luciene Franco lançou em 1957 o primeiro disco, um single de 78 rotações que trazia no lado B uma música de Luiz Bonfá (1922 – 2001), o bolero Tarde morena de Espanha. Violonista e compositor carioca, Bonfá seria nome recorrente nos créditos da discografia de Luciene Franco, dominada por singles. Mas consta que a cantora era uma das intérpretes favoritas de Ary Barroso (1903 – 1964), de quem lançou o samba Eu fui de novo à Penha em disco de 1958.
Luciene Franco gravou somente três álbuns – A notável (1959), Lucienne é amor (1962) e Pelos caminhos do mundo (1963) – e cantou muito em programas da TV Rio, emissora que a contratou no auge da carreira.
Em que pese os eventuais sucessos da fase inicial da trajetória profissional, a artista abandonou a carreira e passou a trabalhar no ramo da hotelaria. A última gravação dessa fase inicial foi Tanto amor nunca mais (Radamés Gnattali e Mário Lago), feita para a trilha sonora da novela Cuca legal, exibida pela TV Globo em 1975.
A volta ao disco aconteceu quase 40 anos depois no tributo Dalva de Oliveira 100 anos – Ao vivo, produzido por Thiago Marques Luiz e lançado em 2018 com o registro do show coletivo de 2017 em homenagem ao centenário da estrela Dalva de Oliveira (1917 – 1972).
Neste tributo, Luciene cantou sozinha E a vida continua (Jair Amorim e Evaldo Gouveia, 1961) e, ao lado de Ellen de Lima e de Márcio Gomes, reviveu Rancho da Praça Onze (João Roberto Kelly e Chico Anysio, 1964).
A derradeira gravação da artista foi feita para tributo produzido pelo mesmo Thiago Marques Luiz para exaltar a memória de Ivon Curi (1928 – 1995). No álbum Um personagem chamado Ivon Curi (2020), a voz de Luciene Franco se harmonizou com o toque do acordeom de Caçulinha (1938 – 2024) para registrar Sob o céu de Paris (Hubert Giraud e Jean Drejac em versão em português de Osvaldo Quirino, 1954), coincidentemente uma música que falava da França, país que gerou Ma vie, o maior sucesso de Luciene Franco.