Anavitória evolui em ‘Esquinas’, mas o canto doce da dupla dissipa densidade das letras sobre as incertezas da vida

  • 14/12/2024
(Foto: Reprodução)
Capa do álbum ‘Esquinas’, de Anavitória Lívia Rodrigues / Divulgação ♫ OPINIÃO SOBRE DISCO Título: Esquinas Artista: Anavitória Cotação: ★ ★ ★ ♪ Quarto álbum autoral gravado por Anavitória em estúdio com músicas inéditas, Esquinas chegou ao mundo na quinta-feira, 12 de dezembro, com 12 novas composições e com discurso pronto para enfatizar a “maturidade” da dupla através de textos assinados por quatro críticos musicais e enviados à imprensa como material promocional do disco. Principal compositora desse duo de formação oficializada em novembro de 2014, Ana Clara Caetano Costa fez 30 anos em 5 de outubro. Vitória Fernandes Falcão chegará aos 30 anos em 2 de maio de 2025. Ou seja: juntas na música desde 2013, ano em que começaram a gravar vídeos em duo de forma descompromissada, Ana Caetano e Vitória Falcão passaram juntas por processo natural de crescimento existencial ao longo dos último dez anos. A evolução inevitável de toda alma humana está refletida nas letras do álbum Esquinas. “Quero ser o avesso / ... / Ter a liberdade do meu corpo inteiro que a solidão me dá / O que eu fui e quem eu sou não é cristal nem pedra nem nunca será”, reforça Anavitória através do canto de versos de Doce futuro (Ana Caetano, João Ferreira, Pedro Calais e Zani), uma das melhores músicas da safra do álbum Esquinas. A rigor, Esquinas se situa musicalmente no mesmo bom nível de Cor (2021), o álbum anterior da dupla. Em Cor, Ana Caetano e Vitória Falcão já começaram a se distanciar do folk fofo – mote do disco inicial Anavitória (2016) – sem se desprender inteiramente do som do começo de carreira. Com produção musical orquestrada por Janluska e Pege com colaborações de Gabriel Duarte, Iuri Rio Branco e João Ferreira, Esquinas é álbum que afasta mais um pouco a dupla do fofolk inicial. Tal como o antecessor Cor, Esquinas é disco independente, lançado pelo selo F/Simas com distribuição da Virgin Music. O selo é de Felipe Simas, empresário que, de certa forma, criou e batizou Anavitória em novembro de 2014 ao sugerir que Ana Caetano e Vitória Falcão formassem uma dupla ao ser contatado pelas futuras artistas. Anavitória nasceu em Araguaína (TO), cidade do estado do Tocantins, mas logo migrou para a cidade de São Paulo (SP), um dos epicentros musicais do Brasil. Foi em Sampa que a dupla gravou o álbum Esquinas entre fevereiro e novembro deste ano de 2024, procurando mais uma vez subverter a fórmula pop de um mercado musical cada vez mais banalizado. Tal como o antecessor Cor, lançado sem aviso prévio em 1º de janeiro de 2021, Esquinas chegou ao mundo sem um single que desse a pista do álbum. Melhor assim, pois a regular safra autoral de Esquinas esnoba receitas de sucessos. Pode-se dizer que Água-viva – uma das cinco parceria de Ana Caetano com João Ferreira, integrante da banda Daparte – desponta como um hit em potencial, pela beleza melódica da canção, sobressalente no disco. Em contrapartida, Se eu usasse sapato abre o disco como um (ótimo) anti-pop em gravação que pode ser exemplificada como um indício do crescimento artístico da dupla. Seria um sinal da tal da “maturidade” alardeada nos textos promocionais do álbum Esquinas. Na prática, o disco soa mais longo do que efetivamente é, com 12 faixas que roçam os 43 minutos. Para quem espera o pop de ambiência roqueira, a pedida é Minto pra quem perguntar, outra parceria de Ana Caetano com João Ferreira, também coautor de Quero contar pra São Paulo. Parceria de Ana com Jorge Drexler, ouvido na faixa em áudios do artista uruguaio, Não sinto nada expõe o contraste que impede Anavitória de cruzar fronteiras e universos musicais com Esquinas. As letras estão mais bem escritas e abordam questões mais complexas da alma humana, mas o canto das artistas parece não acompanhar o progresso dos versos e das temáticas em processo similar ao ocorrido com Sandy, cuja voz ficou aprisionada no tom da adolescência. Perceptível em Mesma trama, mesmo fio (Ana Caetano) e emTer o coração no chão (Ana Caetano), balada de tom filosófico que ecoa canções afins de Gilberto Gil, essa falta de sintonia entre a doçura do canto e a densidade dos versos até diminui em Espetáculo estranho (Ana Caetano e João Ferreira), faixa com maior dose de experimentação, mas atravessa todo o disco. Ao fim da rota, Esquinas transita em águas sombrias com Navio ancorado no ar (Ana Caetano). No todo, é justo ressaltar o crescimento de Anavitória em Esquinas, álbum que traz parcerias de Ana Caetano com João Vicente de Castro (Ponta solta) e Paulo Novaes (Eu, você, ele, ela) que soam menos sedutoras no conjunto da obra. Ao procurar mapear em Esquinas as incertezas e impermanências da vida, Anavitória busca outros caminhos e outros sons. Somente por isso o quinto álbum de estúdio da dupla – o quarto autoral, pois N (2019) foi dedicado ao cancioneiro de Nando Reis – já merece atenção e crédito. Para frente é que se anda.

FONTE: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2024/12/14/anavitoria-evolui-em-esquinas-mas-o-canto-doce-da-dupla-dissipa-densidade-das-letras-sobre-as-incertezas-da-vida.ghtml


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